Uma aventura no teatro


Foto: Krristoff
Tinha sido um agradável fim de tarde, nessa sexta-feira, 13 de outubro. Michelle sentia no ar a agradável combinação do cheiro de castanhas assadas e do frango de churrasco vindo dos restaurantes ali perto. A verdade é que ela jantara à pressa para não chegar atrasada. Como o esperado, foi a primeira a chegar: os rapazes não tardariam a aparecer, até porque a peça de teatro a que iam assistir começaria às 21:30 horas em ponto.                                                                                              

Apesar da brisa amena de outono, Michelle não conseguiu evitar um arrepio ao dar-se conta da sua solidão àquela hora na praça: tinha combinado encontrar-se com o João e o Miguel na Infante Santo às 21 horas.

Para matar o tempo, pôs-se a ler as notícias locais no Facebook. Não se falava de outra coisa: o grande Asdrúbal Costa e a sua companhia estavam a fazer grande sucesso no palco do Cineteatro da cidade! Praticamente não se falava de outra coisa. E não era caso para admirar: não era todos os dias que se recebia um ator tão famoso!

– Boa noite, Michelle!

– Olá, rapazes. Não vos vi chegar. Estava entretida a ler as notícias…

– Ah! A de mais um roubo de um carro de alta cilindrada?

– Não! Estou a ler sobre o sucesso da Dupla Face do Asdrúbal. E por falar nisso, vão sendo horas…

No fim do espetáculo, os três amigos encontraram-se num corredor atapetado, repleto de gente eufórica à espera de um autógrafo. A peça tinha correspondido às expetativas. O problema foi passar pelo segurança gordo e mal-encarado.

– Façam o favor de entrar, meus caros! Querem uma foto minha rubricada, não é verdade? – perguntou, com a maior simpatia, Asdrúbal Costa.

– Sim, por favor! Sou a sua fã número 1! - confessou Michelle, quase a chorar de alegria.

Estar ali, na intimidade do grande ator de teatro e ídolo, causava impressão. Michelle nem queria acreditar. Nisto, o segurança entrou e pôs-se a cochichar ao ouvido de Asdrúbal. O sorriso do ator tornou-se plástico.

– Meus queridos, importam-se de aguardar um pouco?

Não tardou até que uma grande surpresa acontecesse: Miguel viu o espelho grande do camarim de rodar e surgir do lado de lá o que lhe pareceu a ponta de um sapato.

– Vocês viram isto?

– O quê, Miguel?

– Vi um pé a sair do espelho!

– Um pé???

Sem perder tempo, o trio descobriu uma passagem do camarim em direção a um túnel mal iluminado, que seguia através de uma espécie de ponte metálica suspensa e que dava para um grande armazém, onde dezenas de indivíduos, em fato-macaco, uns com máscaras outros sem ela, se divertiam a desmontar carros de alta cilindrada.

– Malta, estão a ver o mesmo que eu?

– João, estamos a ver e a pensar o mesmo que tu! Isto é a quadrilha de que tanto se fala na nossa cidade!

– Michelle, achas que têm ligação com o teatro?

Miguel ainda não tinha acabado a frase, quando sentiu atrás de si a presença robusta do segurança carrancudo.

– Mas o que é que vocês, seus pirralhos, estão a fazer aqui?

O que foi dito a seguir fez o chefe da polícia erguer o sobreolho.

– E vocês escaparam dali como?

– Ora, eu passei por baixo das pernas, o Miguel deu-lhe um empurrão e ajudou o João a fugir!

– Basicamente, desatamos a correr em direção ao espelho! - acrescentou João.

– E garantem vocês que o Asdrúbal Costa está metido neste negócio dos roubos? - insistiu, desconfiado o chefe Lopes.

– Temos fortes suspeitas de que ele é o cabecilha de uma rede de ladrões altamente qualificada.

– Quando reentramos pelo espelho, ele estava aos berros: “Apanhem-me esses fedelhos intrometidos!”

– A piada é que nós lhe entramos pelo camarim e ele ficou sem fala.

– Pois... - rematou com sarcasmo o João – faltou-lhe o ponto!

– Bem, meteram-se numa! Nós já andávamos há algum tempo atrás desta pista... Parece que vocês chegaram lá primeiro que nós!

Daí a dias, os três amigos liam nas notícias que Asdrúbal Costa (o grande ator da Dupla Face) e parte da sua companhia iam passar a animar o pessoal da prisão.

– Nem posso acreditar! - lamentou Michelle – o meu ator favorito...

– Vá lá anima-te, rapariga! Não é todos os dias que te pedem uma entrevista! - disse o João.

– Sim, vamos mas é ensaiar o que temos de dizer.

– Ser famoso é exigente! - concluiu, num sorriso largo, Miguel.


Beatriz Vieira (n.º 7), Gonçalo Pimenta (n.º 11) e Tiago Cardoso (n.º 22) Turma 7.º A

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